quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Allô Allô?

Ontem não tive hipótese de ouvir a declaração do Presidente da República relativamente ao tão badalado tema das escutas. Acabei de a ler agora e ocorrem-me alguns pensamentos:

  1. Em momento algum o PR confirma ou desmente (claramente!) se efectivamente houve escutas ou não. Ou seja, a dúvida permanece;
  2. Ao longo da sua declaração, para além de não cessar com a dúvida principal, ainda alimenta outras, lançando suspeitas sobre terceiros sem apresentar qualquer prova do que afirma;
  3. Refugia-se sempre na sua leitura pessoal, quando de um PR se esperam factos e não opiniões… pelo menos em declarações oficiais. Isto é, oficialmente não diz nada, mas a título pessoal lá vai lançando as suas farpas (mais uma vez, sem qualquer prova concreta do que diz).
  4. Não tem qualquer indicação que o seu assessor seja efectivamente culpado… mas despede-o na mesma! Supostamente para terminar com o clima de desconfiança. Quer dizer, Cavaco Silva sempre se quis distinguir pelo seu sentido de justiça, rigor e imparcialidade… e vai contra tudo isso ao despedir um suposto inocente? Talvez não seja assim tão inocente, não?
  5. Cavaco afirma também que o tentaram colar ao PSD e que não quis interferir nas eleições. Se ele não quisesse realmente interferir na campanha, tinha tomado as devidas providências e acabado com a fantochada logo no início dela! Mas não o fez, o que me leva a crer que tentou prejudicar o PS, esperando que perdesse votos pelo clima de desconfiança entretanto gerado (não que já não houvesse motivos para não se votar PS, mas sempre era mais um e o Zé Povinho até acredita em quase tudo o que lhe conta…);.
  6. Não faria sentido nenhum terem sido elementos do Governo a inventar esta história toda, a não ser que fosse alguém que quisesse muito mal a Sócrates (e aí a vítima não é o PR, como ele bem tenta mostrar que é), mas sim o nosso reeleito PM;
  7. Se fosse efectivamente verdade, e assegurando o PR que está cá sempre para assegurar os superiores interesses de Portugal, por essa lógica, o superior interesse de Portugal era saber que realmente existiram escutas antes de se arriscar eleger um governo que não merecesse os nossos votos. Todavia, em momento algum, alguma vez foi claramente confirmado que realmente houve escutas nem nunca se mencionaram nomes concretos de culpados. E ainda hoje, na verdade, continuamos a saber exactamente o mesmo.
  8. Só agora é que o PR se apercebeu que podem aceder ao seu PC? Hackers, nunca ouviu falar? Piratas informáticos? Até eu, que sou um zero à esquerda em assuntos de informática (e não tenho conselheiros à minha volta), sei disso… não haveria o PR, ou alguém por ele, saber? Please…
  9. Manipulação, crime… quanto dramatismo, meu Deus… Mais parece que está a tentar tornar a coisa pior do que é, o que me leva a crer que afinal não é coisa nenhuma;
  10. Declaração unilateral: Eu falo, digo o que me apetece, lanço as minhas desconfianças e de fininho me vou, para não me fazerem perguntas em cuja resposta me possa engasgar… Parece-me bem! (ironic mood).

Portanto, basicamente tenho para mim que tudo isto não passou de uma fantochada, muito mal contada e sobretudo muito mal esclarecida. Mais depressa acredito que seja uma invenção nascida em Belém do que um facto ocorrido a partir de S. Bento.


E para que não restem dúvidas, apesar de ser tendencialmente socialista, não estou a tomar partido de ninguém.

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